ColunistasTania Cristina Nunes

QUANDO O TRABALHO ADOECE

O trabalho, enquanto fator determinante do desenvolvimento humano, tem representado um papel de grande importância na história da humanidade. As transformações econômicas, tecnológicas e institucionais que vêm ocorrendo, principalmente nas três últimas décadas, têm impactado profundamente a forma de gerir as organizações, inclusive no que diz respeito à gestão de pessoas. Tais mudanças e a organização dos processos de trabalho têm gerado repercussões diferenciadas na saúde e na integridade do trabalhador.

Na sociedade pós-moderna, o estresse tem se tornado um problema de saúde muito comum, tanto no âmbito profissional como na esfera pessoal, pois sua incidência tem aumentado assustadoramente nos últimos anos.

Estresse pode ser entendido como uma reação psicofisiológica complexa do organismo, surge diante da necessidade de lidar com algo que desequilibre internamente o indivíduo. O estresse é um estado geral de tensão fisiológica e mantém relação direta com as demandas do ambiente. O estresse ocupacional, por sua vez, é mais frequente quando há muitas responsabilidades significativas, mas poucas possibilidades de tomada de decisão e de controle. Constitui-se em experiência extremamente desagradável, associada a sentimentos de hostilidade, tensão, ansiedade, frustração e depressão desencadeados por estressores localizados no ambiente de trabalho, em função da ocupação que a pessoa exerce.

Os principais fatores psicossociais geradores de estresse que podem estar presentes no meio ambiente do trabalho envolvem aspectos de organização, administração e sistemas de trabalho e a qualidade das relações humanas. Por isso, o clima organizacional de uma empresa vincula-se não somente a sua estrutura e às condições de vida da coletividade do trabalho, mas também a seu contexto histórico, com seu conjunto de problemas demográficos, econômicos e sociais. Assim, o crescimento econômico da empresa, o progresso técnico, o aumento da produtividade e a estabilidade da organização dependem também dos meios de produção, das condições de trabalho, dos estilos de vida, do nível de saúde e bem-estar de seus trabalhadores.

Pesquisadores ao discorrerem sobre os fatores psicossociais e suas implicações na saúde do trabalhador, enfatizam a interação de aspectos do ambiente de trabalho e de variáveis de caráter individual e subjetivo, como as atitudes, o estilo de vida, experiências passadas, assim como a vulnerabilidade e a resistência ao estresse. Estas condições de vida vão influenciar o modo como os indivíduos experimentam e interpretam suas vivências e a qualidade do ambiente de trabalho pode intensificar a maneira como lidam com tudo isso.

Os estressores externos também podem estar relacionados com as exigências do dia-a-dia do indivíduo como os problemas de trabalho, familiares, sociais, morte ou doenças de um filho, perda de uma posição na empresa, a não concessão de um objetivo de trabalho, perda de dinheiro ou dificuldades econômicas, notícias ameaçadoras, assaltos e violências das grandes cidades.

Quanto às demandas de trabalho, pesquisadores referem-se a estressores psicológicos envolvidos na realização da carga de trabalho, tais como: tarefas inesperadas, volume de trabalho, nível de atenção e concentração requerida, pressão de tempo, interrupção das tarefas, dependência da realização de tarefas por outros e conflito de papel. Por sua vez, um conjunto de indicadores avalia os sintomas de tensão agrupados em dois fatores: exaustão e depressão. O indicador de exaustão constitui resposta de cansaço pela manhã e completa exaustão à noite. Já o indicador de depressão consiste de aspectos como nervosismo, ansiedade, problemas com o sono, preocupação e depressão, com previsão na variação nos níveis de tensão mental.

Para tornar claro o processo de desenvolvimento do estresse é necessário considerar que o quadro sintomatológico do estresse varia dependendo da fase em que se encontre. Na “fase do alerta”, considerada a fase positiva do estresse, o ser humano se energiza através da produção da adrenalina; a sobrevivência é preservada e uma sensação de plenitude é frequentemente alcançada. Na segunda fase, a “fase da resistência”, a pessoa automaticamente tenta lidar com os seus estressores de modo a manter sua homeostase interna. Se os fatores estressantes persistirem em frequência ou intensidade, há uma quebra na resistência da pessoa e ela passa a “fase de quase-exaustão”.

Nesta fase, o processo de adoecimento se inicia e os órgãos que possuírem uma maior vulnerabilidade genética ou adquirida passam a mostrar sinais de deterioração. E não havendo alivio para o estresse através da remoção dos estressores ou através do uso de estratégias de enfrentamento, o estresse atinge a sua fase final, a “fase da exaustão”, quando doenças graves podem ocorrer nos órgãos mais vulneráveis, como enfarte, úlceras e psoríase, dentre outros. Aqui a pessoa para de funcionar adequadamente e não consegue na maioria das vezes trabalhar ou se concentrar e a depressão passa a fazer parte do quadro.

A resposta de estresse necessariamente deve ser estudada nos seus aspectos físicos e psicológicos, pois ela desencadeia não só uma série de modificações físicas, como também produz reações a nível emocional. Na área emocional, o estresse pode produzir desde apatia, depressão, desanimo, sensação de desalento e hipersensibilidade emotiva até raiva, ira, irritabilidade e ansiedade, além de ter o potencial de desencadear surtos psicóticos e crises neuróticas em pessoas predispostas. As doenças psiquiátricas (depressão bipolaridade e síndrome do pânico) podem levar ao afastamento do colaborador e consequentemente podem impactar a produtividade e o desempenho da equipe. Tal fato pode ser percebido na forma de licenças médicas e absenteísmo, queda de produtividade, desmotivação, falta de concentração, irritação, dificuldades interpessoais e doenças físicas e psicológicas, acarretando altos custos para a pessoa e para as empresas.

As estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) ressaltam que os transtornos mentais menores acometem aproximadamente 30% dos trabalhadores ocupados, e os transtornos mentais graves, entre 5 e 10%. No Brasil, dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) referentes à concessão de benefícios previdenciários de auxílio-doença, por incapacidade para o trabalho superiores a 15 dias e de aposentadoria por invalidez ou incapacidade definitiva para o trabalho, demonstram que os transtornos mentais ocupam o terceiro lugar entre as causas dessas ocorrências.

O estresse ocupacional, interfere na qualidade de vida modificando a maneira como o indivíduo interage nas diversas áreas da sua vida. Dessa forma, na área familiar pode ocorrer alta incidência de desajustamentos.  O pouco tempo dedicado à família em função do alto investimento no trabalho acarreta a falta de suporte e apoio quando necessário. Na área social, podem ocorrer o isolamento e a consequente falta de amigos. Culturalmente, pode ocorrer rigidez comprometedora do desempenho em função da grande resistência a mudanças desenvolvida. A criatividade fica prejudicada e um empobrecimento de valores pode ocorrer, principalmente se a pessoa assume uma forte tendência a buscar ou a se manter no poder.

Por isso é muito importante o acompanhamento psicoterápico para evitar e prevenir os impactos negativos do estresse. A PSICOTERAPIA tem como objetivo trabalhar as emoções (melhorando as relações interpessoais), ajudar a compreender e elaborar melhor as dificuldades, diminuindo a ansiedade e promovendo melhor qualidade de vida. A saúde dos profissionais é fundamental para manutenção da qualidade dos serviços e podemos realizar, junto às empresas um programa para orientar os colaboradores e ajudá-los a enfrentar a grande pressão do trabalho.

Tania Cristina Nunes

Psicóloga, formada pela UNIP. Experiência em terapia infantojuvenil e adulto. Experiência em Transtorno do espectro autista. Psicodiagnóstico com intervenção. Apoio na escolarização e orientação e atendimento a pais e responsáveis.

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