Nossa Cidade

Rita

Quem se lembra da Rita?

A velha Rita que ajudou minha avó paterna a criar seus 7 filhos? E todos homens.

Ela dizia que se chamava Rita Maria de Jesus. Que seu pai chamava-se Brás e que sua madrinha lhe contou que sua mãe morreu no parto juntamente com sua irmã. Ela foi gêmea.

Ela foi descoberta por vovó na fazenda de sua mãe, no município de Milagres, franzina e sozinha.

Aquela menina serviria para ajudá-la a olhar seus filhos e por isso levou-a para sua casa em Monte Santo.

Seu pai casou-se com sua tia materna que era muito brava e que levou a filha Lucinda, que recebia dela todas as atenções.

Era visitada, de vez em quando, pelo pai. Passou muitos anos sem ir vê-la.

Um dia lhe disseram que havia morrido.

Vovó era austera e criou Rita dentro desta austeridade.

Fala mansa, meiga, servil e extremamente trabalhadeira, Rita acompanhou vovô e vovó até suas mortes.

Eram 7 os filhos, mas ela não pestanejou quando teve que escolher com quem ficar. Escolheu o caçulinha, “o Gerardo”, como dizia.

Quando veio para nossa casa eu tinha 6 anos.

Embalou cada sono nosso com histórias e cantigas, sem jamais mostrar cansaço ou impaciência.

Crescemos, casamos e a velha e doce Rita passou a embalar nossos filhos, que seriam seus bisnetos, com a mesma paciência, carinho e amor.

Tinha suas preferências. Aqueles que levava até a pia batismal, mas todos eram seus afilhados. Era a madrinha Rita.

Já doente cuidava de todos como se fôssemos nós os doentes.

No dia 14 de julho de 1976, Deus levou-a.

Partiu silenciosamente como chegou, mas está viva em nossa lembrança a sua postura ereta, as suas orações, as suas histórias e o grande amor que nos dedicou.

Rita, nome doce que brota nos lábios de todos que tiveram a graça de conviver com ela.

Sabia amar sem cobranças; servir sem recompensas; ouvir sem retrucar e perdoar quando era ofendida.

– “Coitada, tá nervosa!”

Fisicamente sem beleza; espiritualmente linda!… Talves seja ousadia dizer: não conheço outra igual

Obra assina por Eneida (1979) Foto: Paulo Henrique Janerini

Mãos rudes, grossas, que sabiam acariciar, trabalhar, plantar e organizar com arte flores nas jarras. Esse serviço lhe dava imenso prazer. Por onde passava, as flores acompanhavam-na.

Sua presença era paz, descanso, organização e sabedoria. Como sabedoria, se era analfabeta? Sabedoria que vem da perfeição do espírito, da nobreza d’alma, do desprendimento das mundanidades e prazeres do mundo.

Sua extrema dedicação e amor nos enternece e quando falamos dela não encontramos palavras para descrevê-la. A nossa Rita é indescritível porque supera todos os nossos conceitos.

Quem teve a honra de conviver com a Rita entenderá o que foi dito.

(Cida e Dircélia)

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